segunda-feira, 26 de maio de 2008

Já falou com o seu vizinho nos últimos dias?

A pergunta parece um pouco provocatória, parva até para quem sai de casa a correr atrasado para o emprego, para levar os miúdos para a escola, ou para um qualquer compromisso que se tinha esquecido.
Também pode parecer idiota para quem todos os dias perde horas nas filas de trânsito, nos transportes ou até mesmo no trabalho, porque há aquela tarefa urgente que há três meses atrás alguém se esqueceu de lhe delegar.
A vida na Suburbia tem estas idiossincrasias onde cada dia menos atenção se presta aos que nos rodeiam, a começar pelos próprios vizinhos, que em particular em grandes condomínios, são estranhos com que nos cruzamos no elevador, nas escadas ou o na reunião de condomínio uma vez por ano.
Pois atentem na noticia bizarra que surgiu na edição online do Jornal Sol de 16/Maio/2008, e que transcrevo.

Mulher morreu há 35 anos e ninguém deu pela sua falta

Os governos mudaram. Uma guerra começou e chegou ao fim. Os vizinhos tiveram filhos e depois netos. Mas Hedviga Golik nunca deixou o seu pequeno apartamento em Zagreb, Croácia, até que o seu corpo já mumificado foi descoberto 35 anos após a sua morte.

A polícia afirmou que ninguém a tinha dado como desaparecida e que o corpo continua por reclamar.

Os moradores do prédio de Hedviga, na baixa da capital croata, decidiram entrar em sua casa por considerarem que o apartamento lhes devia pertencer a eles e não a Hedviga. Quando entraram viram o corpo deitado na cama. Assustados chamaram a polícia.

Os peritos calculam que a mulher deve ter morrido em 1973, altura que coincide com a última vez que foi vista por uma das vizinhas. Davor Strinovic, um dos criminalistas, afirmou que a causa da morte parece ter sido natural, mas «é quase impossível afirmá-lo com certeza» após tanto tempo.

Alguns dos vizinhos disseram que Hedviga tinha falado em ir para o estrangeiro, o que parece explicar a razão pela qual ninguém deu pela sua falta.

Segundo os criminalistas, o mau cheiro, característico dos cadáveres, foi dissipado pelas janelas que permaneceram abertas durante este tempo. Não se sabe ainda ao certo se alguém ou quem pagava as contas de Hedviga e a quem pertencia, realmente, a casa. Em 1973, os apartamentos pertenciam ao Estado.

Os vizinhos querem agora que o apartamento seja partilhado pelos restantes inquilinos.

A descoberta do cadáver de 35 anos trouxe o debate para os media: «Como é possível que uma mulher tenha morrido há tanto tempo sem que ninguém tivesse dado pela sua falta?». Uma jornalista local afirmou que era a prova da crescente alienação das pessoas.

«Meus queridos vizinhos! Por favor continuem a ser curiosos e às vezes incómodos, como têm sido até agora»,escreveu a jornalista Merita Arslani no jornal Jutarnji.

Em Portugal, ainda temos muito o culto da bisbilhotice da vida alheia, por isso, ainda é pouco provável que episódios destes aconteçam, mas isto demonstra o grau de alienação da vida em sociedade para que caminhamos, se algo não for feito por cada um de nós para o evitar.
Não é preciso bisbilhotar, querer saber tudo sobre os vizinhos, os que nos rodeiam, mas tentemos conhecer um pouco melhor as pessoas que convivem connosco e que partilham um pouco das nossas vidas. Quem sabe isso não ajuda a tornar a convivência um pouco menos penosa e consigamos ultrapassar aqueles conflitos que habitualmente surgem entre vizinhos.
Com o envelhecimento da população portuguesa e por arrasto, da Suburbia, há cada vez mais pessoas sós, abandonadas, cuja ligação com a realidade passa apenas por uma conversa de ocasião com um vizinho, pois até a família se esqueceu dela.

Não há nada mais triste e até desumano do que um ser humano abandonado, só e esquecido no meio de uma multidão. Não se esqueça disso, pois um dia pode ser você na mesma situação!

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