quarta-feira, 27 de junho de 2007

Sabedoria India

Enviaram-me esta pequena pérola da sabedoria anciã. Pelo menos dá que pensar!


sexta-feira, 15 de junho de 2007

Solidão das multidões

As cidades são espaços privilegiados para grandes multidões, seja no estádio de futebol, num concerto, num centro comercial, numa igreja, na rua, nos transportes.

No entanto, cada vez mais os suburbanos sofrem de um mal que vai matando aos poucos a capacidade de cada um se relacionar com os outros: a imensa solidão que a maioria sente nesses grandes espaços públicos.

A solidão urbana é fria, indiferente a sexo, raça, extracto social ou credo religioso. Esta solidão é alimentada por um ritmo de vida alucinante, em que cada um vive para cumprir um horário feito para super-homens ou para dias de 48h. É neste ambiente de loucura que ainda se tenta encontrar um amigo ou amiga, uma ou mais almas com quem se pode compartilhar momentos de prazer e descontracção.

É também neste ambiente que as relações intimas tentam sobreviver quando ele trabalha das 9 às 21 e ainda é roubado pelos colegas para ir para aquele jantar de negócios e ela trabalha das 9 às 21, mas depois vai ao ginásio para combater o stress, ou fica com aquela enxaqueca terrível depois de um dia terrível. Quando finalmente podem estar juntos, estão demasiado cansados para sentir o prazer de estar um com o outro.

Se a isto juntarem filhos ou outras ocupações tão tipicamente urbanas, o que resta? Apenas a solidão de uma cama fria ou de uma sala vazia, uma falta de intimidade com alguém que compense todos aqueles momentos mais desagradáveis em mais um dia no inferno da Suburbia.

Esta solidão das multidões é talvez o mais ignorado dos sentimentos da Suburbia, talvez porque toda a gente tenha vergonha de assumir que se sente sozinho no meio de uma multidão. Mas todos os dias, milhares e milhares de pessoas deslocam-se sozinhas na cidade, sozinhas com os seus pensamentos, medos, alegrias, ambições. Que bom seria se o pudessem partilhar com alguém! Quantas vezes não sentiram necessidade de contar a alguém algum evento e não tinham ninguém que o pudesse ouvir? Ao mesmo tempo quantos já não passaram por aqueles momentos confrangedores de alguém que não se conhece mete conversa só por que lhe apeteceu e ficamos a pensar: "Este não bate bem dos pirulitos..."

Mas agora chegou a maravilha da tecnologia que permite ultrapassar isso tudo: está sozinho e quer falar com alguém? Não incomode o seu vizinho, telefone para o seu amigo ou amiga que está a 200km de distância, para lhe falar sobre aquele assunto que no momento achou o mais importante da sua vida. Só que esta tecnologia na prática aumenta ainda mais a solidão, senão vejamos: quem não passou já pelo constrangimento de estar num almoço de amigos e 75% dos elementos na mesa estão ao telemóvel com alguém?

É por crescer este tipo de solidão que cada dia mais a sociedade, e em particular as moles urbanas estão cada vez mais descaracterizadas, tristes, amorfas, sem vida, pois está a perder-se a capacidade de comunicar com os outros de forma espontânea. Para compensar isso, criam-se as comunidades virtuais e outros estratagemas tecnológicos para reinventar o puro prazer de estar com os outros.

Não vou sugerir que agora desate a falar com aquele grupinho que vai de Metro consigo ou meta conversa com o vizinho da fila de trânsito, mas redescubra o prazer de conversar, estar com a família, os amigos e deixe lá o telemóvel em silêncio por uns minutos. Vai ver que o telemóvel não se vai sentir só (por enquanto!).

E sorria, sorria com o verdadeiro prazer de viver. Vai ver que não dói e no fim do dia sentir-se-á menos só.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Ninguém é indispensável, mas que faz falta, faz!

Em primeiro lugar deixem-me realinhar o posicionamento do que escrevo: escrevo sobre o que sinto e sobre o que me rodeia.
O objectivo inicial deste blog talvez fosse um pouco mais generalista, mas até pela pouca divulgação do mesmo (o meu contador conta actualmente umas miseras 250 visitas, e ainda por cima algumas são minhas para fazer os posts), cada vez mais se torna um cantinho intimista em que todos os que vierem por bem, são bem vindos.

Esta ausência de quase 3 meses deveu-se entre outras razões, a umas retemperantes férias em terras de Vera Cruz, que por razões meramente conjunturais acabaram por me fazer contactar durante mais tempo com outra suburbia, outra realidade, outras pessoas, mas que infelizmente tem muitos pontos comuns com a nossa realidade suburbana.

No entanto, não é deste meu devaneio por outras paragens que me leva a esta prosa. Que me perdoem os outros, mas este post tem destinatários. Nestes 3 últimos meses aconteceram alguns eventos preocupantes do ponto de vista profissional e consequentemente também do ponto de vista pessoal, pois não consigo compartimentar totalmente as relações pessoais das profissionais, pelo menos dos que me estão mais próximos.

Tenho tido o prazer de trabalhar numa equipa em que, apesar das múltiplas dificuldades sentidas num ambiente de quase guerra sem quartel, esta sempre soube manter uma estabilidade, unidade, camaradagem e força invejada por muitos dos que nos rodeiam.

Porém esta estabilidade começa a ser comprometida, quer pelas justas ambições de uns, quer pela precariedade do vínculo laboral de outros, e antevejo dias ou meses difíceis pela frente.

Costuma dizer-se que numa organização, ninguém é indispensável. No entanto, numa equipa onde cada um tem características que complementam as dos outros, a saída de alguém acaba sempre por ser uma perda sentida. Se juntarmos a isso uma relação pessoal mais próxima, a perda pode ser ainda mais sentida, mas a vida é feita disso mesmo, de rupturas na continuidade, que nos fazem acordar para a realidade a que nos acomodámos.

O motor de uma boa equipa é o respeito pelas diferentes opiniões, pelas diferenças de comportamentos, e em simultâneo o reconhecer das limitações de cada um e a humildade de as assumir sem que isso se torne uma forma encapotada de se encostar ou sobrecarregar os outros.

Sei que, tal como estive prestes a dizer "Adeus", outros o farão num futuro mais ou menos próximo, pois nada nesta vida é imutável. Fica aqui o meu testemunho sincero de que esta equipa vale pela soma de várias personalidades, maneiras de trabalhar, maneiras de ver e estar na vida e que soube gerir as tremendas dificuldades do dia-a-dia com uma postura positiva, conseguindo rir mesmo naquele momento particularmente stressante, após mais uma estonteante "cavalidade" cometida seja por colegas ou pessoas externas ao grupo.

De todos, talvez por ser o "membro fundador" da equipa, sou o que sinto mais as mexidas que se perspectivam, e sinto-o porque apesar de todos os defeitos que cada um naturalmente tem, na minha quiçá inocência, penso que todos eles podem contribuir para um objectivo comum. Cada um no seu modo de ser contribuem para que o dia seja um pouco menos cansativo... Seja pelo sorriso matinal que desarma qualquer má disposição, seja por aquele ar preocupado de quem já desancou 32 pessoas e ainda são só 9:30 e logo a seguir conta uma piada, seja pela estória de mais uma peripécia da filhota querida, seja pela resmunguice de quem mais uma vez chegou atrasado por causa do trânsito e tem 30 papeis para fechar nesse dia, ou seja pelo riso gaiato de quem parece não ter preocupações na vida, tudo isso são pequenos actos que me fazem sentir na minha segunda casa, junto da minha "família".

Numa equipa assim, garanto-vos, a todos sem excepção: ninguém é indispensável, mas todos fazem muita falta!!

A todos eles, fica aqui o meu reconhecimento pessoal pelos ensinamentos profissionais e de vida que tenho podido obter de todos eles aos longos destes últimos meses. Não sei quanto tempo continuaremos a partilhar as mesmas funções, mas podem ter a certeza que o respeito pelo trabalho e individualidade continuará, sempre na mesma na medida em que seja respeitado (só peço isso em troca).

Como dizia com muita graça um colega: "Avisa-se que um contacto prolongado com esta direcção pode causar danos irreparáveis", a que eu junto "...mas com uma equipa destas, não há dano irreparável nem mal que perdure".

Um Mundo um pouco melhor constrói-se com entreajuda e respeito pelos que nos rodeiam, sejam eles família, amigos, colegas ou até estranhos com que nos cruzamos na rua. Pense nisso e aja em conformidade. Talvez descubra que afinal a vida na Suburbia ainda pode proporcionar bons momentos no meio do stress e da loucura do dia-a-dia! E na vertente que menos esperava!!

Carta aberta ao Presidente da Junta de Freguesia do Subúrbio

Este e-mail que abaixo transcrevo, foi escrito num momento de revolta inconformada com a quantidade de disparates e desperdício do meu dinheiro (do dinheiro de todos nós) que tenho assistido nos últimos anos no meu subúrbio. No entanto, o que é revoltante é que quase todos os que vivem nas áreas suburbanas de Lisboa, tem de certeza queixas semelhantes, independentemente da cor politica do executivo camarário ou da freguesia. É por causa de pequenas coisas como estas que perco todos os dias a minha confiança na capacidade da classe política mudar algo neste País... Retiro as referências especificas, mas apenas por razões "pseudo-literárias" e de privacidade.

"Ao cuidado do Sr. Presidente da Junta de Freguesia da Subúrbia e restante executivo da Junta

Venho pela primeira vez recorrer a este meio para demonstrar o meu veemente protesto pelo péssimo serviço aos habitantes da Subúrbia que este executivo da Junta de Freguesia tem vindo a prestar nos últimos anos, no que respeita às condições de habitabilidade nesta cidade já de si problemática, e que o exemplo abaixo apenas é mais uma evidência.

Sou morador na Rua A e hoje, dia 28/MAIO/2007 fui confrontado com a execução de uma obra nesta rua que me deixou totalmente perplexo.
Há alguns anos atrás foram construídas 2 reentrâncias nos passeios da parte poente desta rua para acomodar os contentores de lixo, devidamente acondicionados, protegidos com barras de metal em redor, que por um lado impediam que os automóveis batessem nos contentores e por também impedia que em dias de maior intempérie, os contentores andassem espalhados pela rua com o vento.

Hoje ao voltar a casa no fim da tarde deparo com a obra executada (que pela dimensão e tipologia, pressuponho que seja de responsabilidade da Junta de Freguesia), em que taparam as 2 reentrâncias criadas nos passeios. Assim, os 3 contentores do lixo estão agora soltos no meio da rua, com evidente perigo de acidentes numa rua já de si extremamente apertada, estando um
deles em cima de uma curva de pouca visibilidade.

Este é apenas um dos pequenos exemplos que povoam a cidade de Subúrbia, do que considero um desperdicio quase doloso do dinheiro dos contribuintes com obras de total inutilidade. Neste bairro, infelizmente os exemplos nos últimos anos são mais que muitos:
- escoadores transversais das aguas das chuvas na Rua B que agora nada mais são do que mais bandas sonoras e buracos na rua. Só mesmo quem nunca esteve aqui no bairro num dia de chuva é que não percebe que o problema é que a rua foi construida num leito de rio e a não ser que façam uma barragem, a rua continuará sempre a inundar cada vez que chove um pouco mais forte.
- Parque de estacionamento junto à rotunda do Supermercado - fizeram um parque de estacionamento que ninguém usa com medo dos assaltos diários provocados pelos bandos de marginais oriundos do bairro vizinho. Como consequência do novo parque, a terminação da Rua A com a rotunda quase não tem espaço para se cruzarem 2 carros.
- Afunilamento da Rua A, topo poente, com a construção de um pseudo passeio que tem um desnível de quase 20 cm para a estrada (deve ser para os idosos do Bairro poderem fazer exercícios de stepping, de certeza!!!).
- Permissão de construção no topo da Rua A/Rua B com uma volumetria que tudo indica vai fazer com que a construção fique em cima da estrada. Lugares para estacionamento? Não deve ser preciso, e o construtor aproveita e "rouba" mais alguns dos poucos lugares ainda disponíveis para estacionar , para passear os filhos/netos ou o cão na rua. Acho extraordinário é como podem construir por baixo de linhas de alta tensão, mas nesta Cidade já nada me espanta.

Fora do Bairro também existem outros exemplos, como a verdadeira zona de guerra em que se transformou a Av. Paris-Dakar há meses a fio e que não se vê fim à vista, nem sequer real utilidade nas obras que estão a ser efectuadas, com prejuízos que imagino incalculáveis para os moradores e comerciantes (já de si poucos) da zona.

Apelo à Junta de Freguesia para que dedique os seus esforços a contribuir para o real bem estar e segurança das populações, como por exemplo:
- exigir junto das autoridades policiais mão firme contra a marginalidade cada dia mais evidente e descarada em toda a nossa cidade e com origem há muito identificada;
- garantir a segurança no acesso ao novo Centro de Saúde de Subúrbia ou caso contrário, estaremos a trazer os idosos, doentes e necessitados ainda para mais próximo de zona inseguras (talvez um dia os senhores autarcas venham ao novo Centro de Saúde de madrugada e tenham que ficar numa fila de espera para marcar uma consulta, e ali ao lado ouvirem os disparos de armas, como com alguma frequência ouvimos aqui na vizinhança)
- fomentar sem obras de fachada uma politica de criação de verdadeiros espaços verdes onde tal ainda é possível, e não apenas plantação isolada de umas arvorezinhas raquíticas que depois ninguém mantém
- pararem de vender a terra onde todos moramos à chusma de especuladores imobiliários que sugam a vida deste País e desta Cidade e começarem a criar condições de vida condignas aos que cá habitam, prestando serviços de forma a que Subúrbia seja uma Cidade viva e não apenas um deposito nocturno de pessoas.

Lamento dizê-lo, com a tristeza de quem sempre viveu na Subúrbia, que tenho vergonha do que estão a fazer com a minha Cidade, precisamente numa altura em que o desenvolvimento causado pela construção em torno das novas acessibilidades veio trazer uma oportunidade que não se repetirá nas próximas gerações para criar uma Cidade moderna e mais funcional e que se tinha libertado das grilhetas de um transito caótico que contribuía para asfixiar o seu desenvolvimento.

Senhores Autarcas, garanto que nas condições actuais não voltarão a ter o meu voto, quer para a Junta, quer para o Município. Como Suburbano, peço-vos que nos façam um favor: se não sabem fazer bem feito, mais vale não fazerem nada, pois pelo menos sei que o meu dinheiro não é atirado para o lixo e fico com a
inocente esperança que mais tarde poderá vir a ser bem usado por quem sabe o que faz."

Como é já normal nestes casos, não obtive qualquer resposta, mas pelo menos deitei-me um pouco mais feliz por não calar a minha revolta.