quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Geração Bling-Bling? Ou estou a ficar velho?

Hoje dei por mim a assistir atónito a uma cena no Metro que me fez pensar que ou estou a ficar velho, ou há algo de profundamente errado nos valores da Suburbia.
Quem anda de transportes públicos na suburbia já reparou no boom de pessoas (eu inclusive) que andam neles com leitores de MP3 ou afins a ouvir a sua música e a não se meter com o vizinho do lado.
Ora bem, agora com o calor e as novas tecnologias foram recuperados (em versão século XXI) os "tijolos" que os jovens nos anos 80/90 levavam para a praia e que poluíam o ar com 300 tipos de música diferente, e que povoavam os transportes onde iam os "afortunados" que não podiam ir de carro para a praia.

Hoje, quarta-feira, 8:00 da manhã, hora a que ainda apetece ir a dormir de olhos abertos, estação do Metro da Bela Vista. Entram 2 chavalecos de uns 15/16 anos com pinta de malandrões, em traje de praia, e perseguia-os um barulho de house music que por trás da música do meu MP3 inicialmente não consegui identificar de onde vinha...

Pois bem, o que era?!? O estimado Nokia 6280 de um dos rapazolas, em modo altavoz a bombar house music em altos berros para o comboio todo ouvir! E ainda para cumulo, sentou-se em frente de um casal que ficou imediatamente incomodado com a barulheira. Devem ter pedido para ele desligar aquilo, mas ainda foi pior, pois além de não desligar ainda começou a protestar e desconfio que não se ficou apenas pela refilice, pois tinha pinta que não ia ficar pelo "não desligo porque não me apetece"... O casal ficou atónito e desconfio que se fosse alguém com cabeça quente, pelo menos o "menino" levava uma chapadona na tromba de certeza!
Não é que não goste da música mas já imaginaram se de repente as centenas de utilizadores de MP3 nos transportes se lembrassem de tirar os phones e pusessem aquilo em alta-voz? A cacofonia que não seria?

No entanto, atenção: nos últimos tempos já não é a primeira vez que assisto a situações semelhantes e quase sempre a jovens com a mania que são os maiores. Isto é apenas mais um pequeno exemplo da total boçalidade e falta de respeito pelos outros que grassa por muitos dos adolescentes neste País. E isto mais tarde vai reflectir-se na forma de estar como adultos e irá condicionar a sociedade num futuro próximo.

Os da minha geração (inicio da década de 1970) também já tinham uma visão muito idílica do mundo, e não passaram pelas dificuldades nem pela repressão da ditadura em Portugal, mas ainda assimilaram muitos dos valores socioculturais das gerações que fizeram o Abril de 1974.

No entanto, começa a chegar ao auge na sociedade uma nova classe de jovens que é individualista, medíocre, até por vezes mesquinha e que nunca teve que lutar para atingir um determinado objectivo, seja material ou imaterial. Que não valoriza a experiência dos outros, e para quem a futilidade e o imediatismo são o principal valor.

Geração "Bling-Bling"?

Não, está na altura da geração "rasca" do meio dos anos 90, do tempo do Cavaquismo, chegar a posições influentes na sociedade e moldar o evoluir do País e sobretudo da Suburbia. E isso nota-se em todos os estratos da sociedade, cada vez mais cinzenta e individualista, menos solidária.

E é esta geração que vai servir de exemplo para os jovens adolescentes, submergidos em exemplos de vida fácil e sem esforço, fomentados pelo marketing viral que os move (o amigo que manda um SMS para os amigos todos sobre aquela campanha fixe, ou um mail com mais uma oferta de musica de borla, ou liga a uma amiga a pedinchar um convite para uma discoteca da moda). Se tiver que se esforçar (leia-se "trabalhar") para os conseguir, não está minimamente interessado, pois apenas tem piada quando não tem esforço associado!

Posso estar a ficar velho, mas cenas como a que vi hoje para mim não são normais.
E só tenho pena que o casal não tivesse mesmo obrigado o "menino" a desligar o telelé-pintarolas-que-até-dá-música, ou então ficava sem ele até ao fim da viagem, como se faz aos putos mimados!

Para quem tem filhos: ao menos ensinem-nos a respeitar os outros e insurjam-se contra a indiferença e a arrogância típicas de quem nunca sentiu falta de nada. Não deixem que sejam os Media ou estranhos a moldar a mentalidade dos que lhes estão mais próximos. Participem activamente na construção de jovens mais bem preparados para a vida, mais conscientes das dificuldades naturais e também mais solidários. Só assim poderão ser felizes e em simultâneo, contribuir para a felicidade da sociedade em geral. A Suburbia agradece!