sexta-feira, 30 de julho de 2010

Doenças da Suburbia

A doença mais comum na Suburbia é a depressão, nas suas mais variadas formas. Alguém consegue explicar porque a alguém deprimido todo e qualquer comentário incomoda? Como se sentissem que todos tem algo contra essa pessoa. Obviamente que não será assim, mas todas as criticas incomodam, e normalmente não suportam o escrutínio dos colegas, da família, até mesmo de estranhos.
Se há um sentimento de se estar encurralado, deve ser este. Não confia em ninguém, não quer ouvir ninguém, mas quer falar com toda a gente. Qualquer comentário parece desproporcionalmente agressivo.

Em muitos casos, se tivessem uma situação financeira um pouco melhor, ou não tivessem família a cargo, esta seria a oportunidade para mandar tudo para as urtigas. Não sendo assim, este sentimento transforma-se numa depressão e deve ser encarada como um caso clínico que nem sempre tem fim à vista.

Nestes casos afastam-se os amigos que ainda existem; muitas vezes a família passa a ser uma entidade estranha em que o deprimido se sente à parte, como se numa realidade paralela; os colegas irritam com o seu persistente optimismo ou pessimismo ou até mesmo futilidade.
A única vontade que sobra é dormir, alhear-se de tudo o que o rodeia, pois tudo o que o rodeia é podre, mau, irritante, angustiante, caótico. 

Certamente que se tivessem a certeza que isso resolvia alguma coisa, muitos mudavam-se para outro universo, paralelo, perpendicular, circular, atómico, qualquer coisa que os fizesse sentir melhor sobre a realidade que os rodeia.

A esperança de todos eles é que um dia isto será ultrapassado, nem que seja porque a morte é o fim de tudo (apesar do que os vendedores da vida após a morte tentam impingir). Mas isso será obviamente muito radical, e todos esperam que este sentimento seja meramente passageiro e que em breve voltem a ser apenas mais um suburbano ligeiramente depressivo.

Num momento de potencial alegria, como é o Verão, cheio de calor, praia, gajas descascadas a apelar às hormonas, a inutilidade toma conta do seu mundo, e a vontade de explodir é mil vezes maior que tudo o resto que pulula num cérebro cada vez mais anafado, acomodado e pobre. A riqueza intelectual poderia não ser muita, mas quando se entra neste mundo torna-se numa pobreza confrangedora.

Seja como for, dizem que isto são sinais claros de depressão. Serão? Ou pura e simplesmente de degradação perante uma realidade cada dia mais desmotivante e caótica? Cada um sabe de si! Porém, um aviso a navegação: se alguma vez estiverem para baixo, não subestimem esse sentimento nem o deixem tomar conta de vocês, pois mais tarde poderá ser muito mais difícil se livrar dele e pode tornar a sua vida num inferno à face da Terra.

Aos que já lá estão, o meu pesar e compreensão. Aos restantes, vivam a vida como se fosse o bem mais valioso que tem e alegrem-se por tudo o que vos acontece. Lembrem-se que há quem não tenha a mais pequena alegria de viver e apenas ocupa espaço e consome oxigénio. É este o conceito do morto-vivo que cresce dia a dia na nossa sociedade!

E como diria um certo senhor : "Façam favor de ser felizes!"

Sem comentários: