segunda-feira, 14 de junho de 2010

Bater em Criança

Um post interessante no blog da psicóloga Cláudia Morais, sobre um tema que até há poucos anos era encarado como "educação musculada" e agora é considerada violência parental.

Muito se tem dito e escrito sobre o impacto dos castigos físicos impostos às crianças. Como a fronteira entre uma palmada no rabo e a agressão física nem sempre parece clara, e porque demasiadas crianças são vítimas de abusos por parte dos próprios pais por esse mundo fora, o tema tem dado pano para mangas.


Bater continua a ser um dos castigos aplicados pelos pais para impor a disciplina. Um estudo recente permitiu um novo olhar sobre a relação entre estes castigos e a violência física. Estatisticamente é possível verificar que as mães que recorrem à palmada para castigar os filhos têm três vezes mais probabilidade de usar formas de punição mais severas. Estes abusos incluem espancamento, queimaduras, pontapés, bater com um objecto numa área do corpo que não sejam as nádegas ou sacudir uma criança com menos de dois anos de idade.


Quanto maior é a frequência dos castigos físicos, maior é a probabilidade de existirem abusos físicos; bater nas nádegas com um cinto, uma colher de pau ou outro objecto qualquer aumenta nove vezes esta probabilidade, em comparação com os casos de mães que não costumam bater nos filhos com um objecto.


Estas associações podem estar relacionadas com a ineficácia dos castigos quando os pais não encontram outros recursos para impor a disciplina – como o reforço positivo ou a colocação da criança a um canto durante um tempo, sem fazer nada.


Assim, importa recordar algumas regras sobre disciplina:


  • Os pais devem manter-se calmos aquando das birras/ episódios de mau comportamento e evitar gritar, para que a criança aprenda que o descontrolo emocional não deve prevalecer. Se as coisas piorarem, mais vale “fazer uma pausa” e voltar a falar com a criança com mais calma.
  • Deve evitar-se a crítica excessiva. É importante que a criança perceba que o que faz com que os pais fiquem descontentes é um determinado comportamento, sem que isso coloque em causa o amor que sentem.
  • Os pais não devem centrar-se apenas nos aspectos negativos. É importante reforçar positivamente os bons comportamentos. É melhor dizer “Fico contente quando arrumas os teus brinquedos” do que “Eu gostava que, pelo menos uma vez na vida, fosses capaz de arrumar os teus brinquedos”.
  • Deve evitar-se os castigos físicos. A Associação Americana de Psicologia tem divulgado estudos que demonstram que esta forma de punição não é mais eficaz do que outros castigos e pode contribuir para que a criança se torne mais agressiva.
  • Os pais devem recompensar e elogiar os bons comportamentos.
  • Os pais devem perceber a diferença entre uma recompensa e um “suborno”. Uma recompensa é dada quando a criança atinge um objectivo, enquanto um suborno é oferecido antes dessa concretização, para tentar motivar a criança a fazer aquilo que os adultos querem.
  • É importante que os pais sejam bons modelos de aprendizagem. Dificilmente se conseguirá que uma criança não seja agressiva se os progenitores adoptarem sistematicamente esta forma de comunicação.

Não sou apologista da violência gratuita seja contra uma criança ou qualquer outro ser humano. No entanto, todos devem desde pequenos saber que há limites, valores, comportamentos que são mais adequados que outros para uma vivência em sociedade. E no caso das crianças quem melhor que os seus próprios pais para mostrar de forma saudavel mas firme quais são os valores com que nos regemos? Se quando a criança se tornar adolescente ou adulto, conscientemente decidir não seguir as orientações dadas pelos pais e educadores, já terá uma bagagem de vida que lhe permitirá escolher em consciência.
Se não houver essa educação no sentido mais lato quando são crianças, correm o risco de não ficar preparados para viver em sociedade e terem comportamentos disfuncionais e acabarem por mais tarde se virarem contra os seus educadores, culpando-os da falta de bases para viver.

Eu sei que é mais fácil falar do que fazer, mas uma das máximas de viver em sociedade é
"A minha liberdade termina onde começa a dos outros"

3 comentários:

Anónimo disse...

Antigamente, o limite das crianças eram impostos basicamente através de porradas, tapas, beliscões, puxões de orelha, e outras acções mais severas, inclusive os próprios professores tinham toda a liberdade de castigar os seus alunos por meios dessas acções.

Penso que isso não fez com que as crianças de antigamente fossem mais obedientes e tinha mais respeito aos pais. Apenas não tinham a liberdade de expressar as suas opiniões, em vez de respeito, tinham MEDO, isso é muito diferente! Cometiam erros na mesma, porém longe das vistas dos pais.

Este medo acabava por afastar os pais dos filhos. Hoje, é muito mais comum verem os filhos se abrirem com os pais, expressarem os seus sentimentos, porque, embora "sem muito limite como antigamente", eles também vêem nos pais um amigo, e não apenas um repressor, castigador, que está o tempo todo atento às suas acções para poder censurá-las.

Como diz o ditado: "Quem educa batendo, ensina a bater!". Como repreender um filho que bateu no coleguinha se você ao fazer isto, também o bate? Acaba por ser uma contradição. Esta acção apenas serve para humilhar o seu filho e quebrar os laços afetivos que você tem com ele, mas não educá-lo.

Por traz da maioria das histórias de pessoas violentas há sempre um passado de violência. Quem já viu a biografia do Saddan Hussein e do Adolf Hitler, por exemplo, percebe que a educação através de surras e outros castigos físicos, apenas serve para ensinar ao filho que o limite das coisas é a violência!

É bom lembrar que as crianças de hoje têm muito mais acesso às informações do que tinham as crianças de antigamente.

Não aceitam por muito tempo serem humilhadas. Elas trocam experiências com outras crianças e podem seguir seus maus exemplos.

O "NÃO" quando em excesso acaba por perder seu valor. Muitas vezes exageramos no uso dessa palavra. Para qualquer coisa boba que a criança faça, dizemos logo um sonoro "NÃO", sendo que aquela ação, junto das nossas vistas não haveriam problema nenhum. Prefiro dizer não, quando for algo que lhe cause algum perigo, e para coisas que não causam perigo, mas não quero que mexa, prefiro desviá-lo e distraí-lo com outras coisas. Ele acaba por perceber que ali também não é para se mexer.

A criança, por natureza, é curiosa. Quer descobrir o mundo, as coisas, que pegar, apalpar, sentir o cheiro, faz parte do seu desenvolvimento.

É preciso ter um pouco mais de paciência com elas, na maioria das vezes, a paciência de Jó. Uma criança criada com amor tem mais probabilidade de ser um adulto feliz, de não ter medo de enfrentar o mundo e as coisas no futuro, estão habituados a descoberta. É só um pouco de liberdade vigiada...Muitas vezes temos um dia atribulado no trabalho e acabamos por descarregar nas crianças, castigando-as por coisas que se formos ver bem nem foram tão merecedoras de castigo.

Vitor M disse...

O ponto de vista exposto no comentário de Anónimo é deveras interessante, muito coerente e ajuda a uma discussão saudável sobre este tema, e apenas lamento que não tenha sido assinado.
Muito obrigado pelo seu contributo!

Anónimo disse...

Fico indignada quando vejo alguém dar palmada no filho. Tenho ódio tão grande de tamanha covardia, que a única coisa que vejo na frente é um monstro insensível, que não consegue controlar seus impulsos.

Acto extremamente covarde. Educar pelo medo, como um animal de circo domado, aliás, hoje nem aos animais é permitida tal atitude. Há pais que não têm paciência de ficar um minuto com os filhos. Quando chegam perto, parecem que já ficam com a mão preparada para qualquer deslize que a criança cometa. Quer mostrar que a superioridade física fala mais alto. Depois, basta os pais darem as costas para eles voltarem a fazer o mesmo, principalmente, se forem novinhos. Ódio, simplesmente ódio é o que me dar ao ver isso. Depois ficam com caras de tacho ao verem que sua acção falhou, e ai vai aumentando a intensidade das palmadas, há que use cinto, chinelos e outro objectos que causem mais dor. O importante é descarregar de alguma forma as frustrações. Como se tudo tivesse de ser perfeito, linear..o pai fala, a criança obedece e pronto!
Antigamente, se criava filho para os pais. Porque era muito bonitinho chegar à casa dos amigos e ver o filho quietinho, paradinho, feito uma estátua, Deus lá sabe quantos sentimentos de descoberta estão reprimidos naquela criança. Temos de criar o filho para o mundo. Criança reprimida é criança tímida, adolescente e adulto pouco sociável.

A obsessão em criar uma criança educada (lê-se domada) é tamanha que esquecem-se de que estão se tornando um iceberg, incapazes de transmitir qualquer sentimento de afeto em nome do autoritarismo.

Procurem entreter a criança com brincadeiras ou algo que lhe der prazer, ao invés de ficar policiando suas acções o tempo todo. Não é deixá-la soltas e ficar sentados no sofá à espera que elas brinquem sozinhas. Não tem piada nenhuma.


Sandra