domingo, 22 de fevereiro de 2009

É Carnaval, ninguém leva a mal

Todos os dias dos últimos vemos opinion-makers por este mundo fora, pregando a desgraça em que todo o Mundo caiu após a crise sub-prime nos Estados Unidos e outros países mais ricos.

Mas sobretudo, o que já parece ser consenso generalizado é que esta crise vai muito para além de uma crise financeira, e tem por base uma crescente crise de valores, em que nada está a salvo de ser destruído, desde os bens materiais, como dinheiro, propriedades, etc, mas também a confiança, honorabilidade, direito ao bom nome, honestidade, amizade e até porque não o amor e a felicidade.

Esta crise pode conduzir a convoluções sociais de consequências imprevisiveis, que pode por em causa tudo aquilo que muitas gerações já tomam como dados adquiridos no seu bem-estar, no seu modo de viver e conviver com os que os rodeiam, quer nas relações pessoais, quer profissionais.

E isto é particularmente verdade na Subúrbia, onde há maior desenraizamento cultural e em que cada vez mais se cultiva uma noção de amoralidade, ou de uma moralidade individualista (cada um tem a sua e que se lixe a dos outros), tornando tempos difíceis como os que podem vir aí, uma autêntica selva em que a única regra será o "Salve-se quem puder".

Quem, como eu, é pai recente e de primeira viagem, deixa-me um pouco apreensivo sobre o futuro do meu filho, pois este tipo de crise pode ter consequências duradouras, que vão afectar o seu próprio futuro e sem que ele tenha contribuído de forma alguma para ele.

Estamos perante um furacão de grau ainda desconhecido, que não sabemos por onde vai passar nem quando vai terminar... E como todos os furacões, deixa um rasto de destruição inenarravel, não tendo qualquer compaixão por nada ou ninguém.

E são as múltiplas noticias diárias sobre este furacão que nos vão povoando a mente, aumentando o grau de ansiedade, e sobretudo o que assusta é a sensação de impotência de muitos de nós em contribuir para travar este furacão. E este furacão vai lentamente devorando-nos, triturando-nos até sermos cuspidos pelo vortex e cairmos sabe-se lá onde, como e em que estado. Hoje desafogado financeiramente, amanhã desempregado, na miséria, sem casa, etc...
Como na grande maioria dos furacões que acontecem pelo mundo, os meteorologistas conseguem antecipá-los com alguma antecedência, avisar as pessoas e estas refugiarem-se ou tentarem proteger os bens... Mas a força destruidora é por vezes tão grande que mesmo os mais avisados nada conseguem fazer para se salvar. Mais uma vez: impotência!

Já que se fazem tantas sondagens sobre os assuntos mais absurdos, tinha curiosidade em ver como é que esta crise afectou a vontade dos portugueses brincarem no Carnaval. No bolso a crise já mexeu, mas será que também já está a mexer na nossa alegria? Que os suburbanos andam mais tristes no dia a dia, parece-me que já é um facto. Mas e na folia? Será que no Carnaval ainda ninguém leva a mal?

Estas pequenas alterações de comportamentos são sinais que se forem analisados em conjunto por sociologos ou outros especialistas nestas áreas concerteza darão indicações que a sociedade em geral, e mais concretamente as sociedades suburbanas estão a perder a sua caracteristica de grupo e a tornar-se numa soma de muitas individualidades, sem ligações entre elas e com um potencial de conflito cada vez maior.

Onde vai tudo isto parar? Gostava de saber... Mas para já, agora que o Carnaval vai a enterrar, se enterrem também algumas das muitas "desgraças" que temos vindo a saber, e que o Sol comece a iluminar um pouco mais as mentes e corações da Suburbia, para que se inverta um pouco este fado português de contínua desgraceira.

Este Carnaval pela 1ª vez na vida, andei mascarado de trabalhador, por isso estou tão bem disposto. Ah sim, espero que já tenham percebido, que tal como refiro no post anterior, sou um "gajo da informática", com tudo o que de bom e mau tem associado.

Resumindo: tentem sobreviver ao furacão, refugiando-se nos vossos "abrigos" e sobretudo não deixem de tentar ser felizes!

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