segunda-feira, 18 de agosto de 2008

E pronto, lá volta a ser notícia...

Morreu mais um desgraçado na bem frequentada Quinta do Mocho, bairro de lata ou ghetto pós moderno que fica na saída norte de Sacavém. Além desse desgraçado, houve mais 4 feridos com menor gravidade, tudo boa gente que estava apenas numa festa de confraternização.

Fala-se de rixa entre membros de gangs, drive-by com tiros e tudo, de fazer inveja a qualquer bom ghetto nigga norte-americano.

Se não fosse Agosto, também conhecido por silly season, e não estivessem ainda tão próximos os incidentes como o tiroteio da Quinta da Fonte e o próprio assalto ao BES com reféns, acho que se ficava por mais uma nota de rodapé nos jornais mais "sangrentos", tipo Correio da Manhã, 24 Horas, etc.

O quotidiano de pequena e grande violência já começa a ser tão normal por esta zona da Subúrbia, que pessoalmente já estranho ver notícias sobre o assunto, tal o abandono em que todos estamos. A Polícia pode até aparecer agora mais musculada por uns tempos, mas apenas mitiga o problema. Não tenho nenhuma cura milagrosa para este mal, a não ser a via xenófoba do "corram com esses gajos todos daqui à pedrada" ou "era metê-los todos num barco e no meio do oceano afundá-lo". Claro que além de politicamente incorrecto, na prática não serviria para absolutamente nada e quem disser o contrário ainda é mais criminoso do que os que por aqui andam aos tiros.

No entanto, esta situação deriva de uma total ausência de politicas de integração, mas também de correcta repressão e criminalização deste tipo de comportamentos. Um destes dias, um estimado "vizinho" dizia numa reportagem: "Só se anda nos gangs até aos 25 anos; depois dessa idade, morres, vais preso ou casas-te e começas a trabalhar para ganhar a vida".
Ou seja, como comunidade, na globalidade, há muita gente honesta, que trabalha para ganhar a vida ou tem o seu negócio e que se vê enxovalhada por bandos de jovens que nada tem ou querem fazer.

Se juntarmos a isto as politicas de integração social pela via do subsídio, em que não se estimula a ajuda para encontrar trabalho, mas sim nada fazer desobrigando os próprios receptores do dinheiro a esforçarem-se por o merecerem, tudo vai continuar exactamente na mesma ou até piorar.

Neste momento, o País, até pelas dificuldades financeiras que está a passar, pelo nível de desemprego, precisa de estimular o trabalho e castigar a ociosidade. Há que demonstrar autoridade moral e institucional estimulando a geração de uma cultura de trabalho a todos os níveis, desde o jovem delinquente que é apanhado a roubar, ao calão que vive à custa dos 10 filhos e respectivo subsídio de reinserção (reinserção em quê?), até ao desempregado que só quer é receber o fundo de desemprego, mas pouco faz para tentar ser produtivo.

Talvez por ser um pouco idealista, penso que é mais útil para a sociedade a médio prazo, pôr os delinquentes a trabalhar (trabalho comunitário ou em prol do bem estar de todos, ajudar a recuperar aquilo que destruíram, mas de forma compulsiva) do que enfiá-los numa cela ou, pior ainda, arranjar desculpas legais para não os castigarem por desrespeitar os outros (ou não é verdade que a minha liberdade termina onde começa a do meu parceiro??).

Mas atenção, há algo que a sociedade, sobretudo nas metrópoles, está a esquecer: nós podemos até incorporar hábitos, tradições, estilos de vida de outros países, mas quem vem para um país (e isto é válido em Portugal, como no Burundi ou no Nepal), deve em primeiro lugar respeitar as leis, costumes, tradições e as regras sociais desse país e devem ser premiados aqueles que, apesar de diferenças culturais ou sociais, sabem que há adaptações a fazer nas suas vidas e convivem com isso com a naturalidade de um ser inteligente e adaptável como é o ser humano.

Um dia talvez este ciclo da Suburbia violenta se quebre, seja por que me fui embora, ou algo realmente mudou. Neste momento da vida, e com uma responsabilidade acrescida de vir a educar mais uma criança, este ambiente seria interessante pela multiculturalidade, mas a violência conspurca tudo e serei provavelmente obrigado a desistir de lutar pelo lugar onde sempre vivi, mas que agora não tem condições para ver crescer o meu filho. Tenho pena, pela cidade, pelas pessoas, pelas gerações que vem aí, mas esta Suburbia é cada vez mais um gigantesco bairro de lata onde não há respeito por nada nem ninguém.

Um dia estas mortes deixarão de ser noticia. Espero que esse dia ainda venha muito longe, mas se ninguém tiver um pulso forte, esse dia está já aí ao virar da esquina.

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